Renata Nascimento*
Todos nós, ou melhor dizendo, a grande maioria de nós, está muito sensibilizado com o que está sendo vivido pela população do Rio Grande do Sul. Em meio ao estado de calamidade que se instalou nos municípios afetados pela tempestade, seguida de enxurradas e enchentes, ficamos sabendo, através das notícias ou até mesmo através de amigos ou familiares que lá se encontram, sobre pessoas e animais que morreram ou que estão desaparecidos ou desabrigados, casas, prédios, condomínios, hospitais, escolas, pontes que foram destruídos, prejuízos nos setores agrícola, industrial, comércios locais e outros e até mesmo sobre a insegurança relacionada à violência de pessoas que acabam se aproveitando da fragilidade da situação para cometer saques, roubos e furtos. Com isto, todos nós somos afetados, não há como fechar os olhos para a dor do outro, fingir que não é com a gente, ficar passivo ou indiferente diante de uma situação como esta.
Eventos como este são capazes de provocar uma sensibilização coletiva extrema, evidenciando em nós, alguns aspectos que transcendem o nosso entendimento meramente racional, e quando percebemos, estamos envolvidos emocionalmente pela dor e pelo sofrimento de outras pessoas, pessoas estas que talvez nem conhecemos, mas que acabam se tornando, de certa forma, mais próximas de nós.
É despertado dentro de nós um impulso de ajuda humanitária que nos transfere de um lugar egocêntrico, ou seja, de uma posição focada somente em nós mesmos, para um lugar altruísta, humilde, na tentativa de proporcionar um certo alívio daquele sofrimento, um acolhimento, um conforto para as pessoas que estão em uma posição extremamente vulnerável tanto física quanto emocional. Quando nos posicionamos de maneira alocêntrica, considerando as necessidades dos demais a fim de consolidar algo maior, uma meta, um objetivo, desenvolvemos e exercitamos a solidariedade, que intrinsecamente nos pertence.
Vários fatores motivam a solidariedade. Há um instinto de sobrevivência coletivo em ser solidário, afinal de contas, somos seres sociais, interdependentes, nossa natureza é vivermos em sociedade, queremos estar com pessoas, trocar ideias, afetos, informações, valores, experiências, portanto, ao presenciarmos uma situação como esta, instintivamente queremos ajudar. Outro fator que pode estar presente é a cultura em que cada pessoa está inserida, que ensina valores que são importantes para a construção do caráter, como por exemplo, a solidariedade. Há também a visão da neurociência apontando que diferentes partes do cérebro são acionadas quando ajudamos alguém, ativando neurotransmissores que nos proporcionam bem-estar, ou seja, quando temos atitudes solidárias estamos ajudando ao próximo assim como a nós mesmos.
Quando vemos as pessoas passando por este tipo de situação, são ativados em nós sentimentos como empatia, compaixão, generosidade, proteção, cuidado, cooperação, altruísmo que são partes integrantes do ser humano e que também provocam atitudes de solidariedade.
Diante de uma catástrofe natural como esta e tantas outras que já aconteceram, percebo a sombra de uma sociedade que necessita de mais consciência e atenção às responsabilidades ambientais e percebo a solidariedade como a Luz que nos conscientiza a cuidar uns dos outros e do nosso planeta, criando um vínculo simbólico que nos torna humanos e nos conduz a uma evolução e maturidade emocionais, espirituais elevando assim a nossa consciência e o significado da nossa existência.
Observar o movimento de solidariedade das pessoas, perceber a presença da cooperação, da bondade, do sentimento de pertencimento, do sentimento de fazer parte de algo maior com vistas a tornar algo sólido, toca profundamente o meu coração, me faz acreditar na evolução do ser humano e ter esperanças de um futuro mais harmonioso.
Faça você também a sua parte, ainda que pequena, mas faça!
Vamos amenizar esta dor que é de todos nós!
*Renata Nascimento é psicóloga clínica de orientação Junguiana